quinta-feira, 25 de novembro de 2010

QUEM FOI JUDITH


MARIA JUDITH ZUZARTE CORTESÃO

A GUARDIÃ DA NATUREZA


Era viúva do literato português Agostinho da Silva e filha do renomado historiador Jaime Zuzarte Cortesão. Tem oito filhos, dois deles adotivos, 21 netos e uma bisneta.

Considerava-se brasileira, mas nasceu na cidade do Porto, em Portugal em 31/12/1914.

MARIA JUDITH ZUZARTE CORTESÃO foi uma mulher BRILHANTE. Tinha um ENORME conhecimento nas áreas da educação, ciência, cultura e notadamente na área AMBIENTAL.

 Judith talvez seja a mulher que contribuiu para o Brasil de forma mais transdisciplinar.  Aprendeu 14 línguas, dentre elas, árabe, esperanto e chinês. Formou-se em Medicina, Antropologia, Letras, Biblioteconomia, Meteorologia, Climatologia e Biologia, com cursos de especialização em Neuroendocrinologia, Genética e Reprodução Humana.

Mesmo formada em diversas áreas, sempre teve a Ecologia como o principal foco de interesse e atuação.

Aos 17 anos foi obrigada a deixar Portugal porque seu pai, Jaime Zuzarte Cortesão, estava sendo perseguido pelo governo ditatorial de António de Oliveira Salazar. Sua família passou pelo exílio na Espanha, na França, na Bélgica e na Inglaterra, e chegou ao Brasil em 1940, quando Jaime aqui se instalou para pesquisar a história da formação territorial do país.

Morou ainda no Peru, no Uruguai e novamente em Portugal. Estabeleceu-se em Brasília na década de 1980, e depois de se dedicar por muitos anos à assessoria e consultoria do governo brasileiro na área ambiental, mudou-se, em 1993,  para a cidade de Rio Grande, no Rio Grande do Sul. Na Fundação Universidade Federal do Rio Grande (Furg), trabalhou no Museu Oceanográfico e na criação do PRIMEIRO PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL DO BRASIL.

ESCREVEU DEZESSEIS LIVROS, entre eles Pantanal, Pantanais e Juréia, Luta pela Vida. Participou da elaboração de seis filmes, como Taim, de Lyonel Lucini, sobre a reserva gaúcha. Foi uma das criadoras do programa Globo Ecologia e da ong ARCA, e consultora das ongs SOS Mata Atlântica e Instituto Acqua. Ela idealizou o Centro de Informação e Formação de Médicos e Cirurgiões de Doenças do Aparelho Locomotor de Brasília, no Hospital Sarah Kubitschek, e representou o Brasil em comissões internacionais, como a das Nações Unidas sobre Poluição Marinha de Origem Terrestre, no Quênia, e a do Patrimônio da Humanidade, no Canadá. Acompanhou missões da Unesco em Portugal e no Brasil, e representou o Peru, o Uruguai e a Inglaterra em congressos sobre assuntos tão diversos como medicina, literatura e educação. Participou ainda das duas primeiras expedições brasileiras à Antártida, em 1982 e 1983.

Em 2003, em Brasília, recebeu pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, a Ordem do Mérito Cultural.

Também em sua homenagem, está em andamento a construção da Casa de Cultura Judith Cortesão dos Povos de Língua Portuguesa (RS) que será no prédio onde nasceu o almirante da Marinha Brasileira, Joaquim Marques Lisboa.

A Casa de Cultura deve receber o acervo da Dra. Maria Judith Zuzarte Cortesão, formado por seis mil peças, entre livros, revistas, teses, documentos em geral, além de artesanato dos mais diversos países.

Em 2005, a Fundação Universidade Federal do Rio Grande – FURG juntamente com o programa de pós-graduação em Educação Ambiental – PPGEA foram contemplados no Edital 1/2005 do Ministério do Meio Ambiente para implantação de uma Sala Verde, a qual foi denominada de Sala Verde Judith Cortesão, devido a doação do acervo pessoal da Prof. Dra. Judith Cortesão.

Faleceu em Genebra, em 25 de Setembro de 2007 aos 92 anos.



Graças à contribuição do amigo Clayton Ferreira Lino, podemos ver no link acima algumas das valiosas viagens que Judith fez pelo mundo.

Clayton Ferreira Lino, especializado em Patrimônio Ambiental Urbano e Manejo de Áreas Naturais Protegidas, é diretor técnico do Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica e membro fundador e conselheiro de várias ONGs, entre as quais a Fundação SOS Mata Atlântica, da qual foi vice-presidente, e a Sociedade Brasileira de Espeleologia, da qual foi presidente. Foi, também, diretor geral do Instituto Florestal de São Paulo. Como espeleólogo, já explorou cerca de 300 cavernas no Brasil e no exterior e publicou dois livros e inúmeros artigos sobre o assunto. Fotógrafo profissional, participou como fotógrafo oficial da primeira expedição brasileira à Antártida e possui acervo de mais de 15 mil fotos sobre patrimônio natural e cultural.

Slideshow

Link para apresentação (Click aqui)

Apresentação de diversas fotos de Judith, inclusive em visita a nossa casa em São Bernardo do Campo / São Paulo

Homenagem Revista Página 22 - FGV



Essa é a Judith, digamos, do curriculum vitae.  Mas não revela o essencial, que ficou impresso na história de milhares de pessoas que ela influenciou.  Como diz Bruno Pagnoccheschi, hoje diretor da Agência Nacional de Águas: “Judith pegava qualquer pessoa, fizesse o que fizesse, fosse de que área fosse, e inseria num contexto maior.  Eu era um engenheirão cheio de regras e cercas e ela me despertou a consciência de que as pessoas têm de fazer parte do mundo, não se encolher”.
Para ele, o “efeito Judith” talvez se explique em parte pelo amor que ela dedicava à poesia, pelo seu olhar sobre as coisas.  “Algo assim como Adélia Prado e Cora Coralina: o que parece banal, que se vê todo dia, volta transformado.  Elas mostram as coisas além do visível, dos critérios de importância e desimportância que costumamos aplicar.”
Meu contato com ela foi marcante e formador, sobretudo durante a Constituinte.  Simples e frugal, Judith não era professoral nunca, não constrangia ninguém com sua bagagem acadêmica e intelectual, não tinha pose.  Conversava com todos, de crianças a ministros, com a mesma generosidade e interesse.  Gostava de pessoas e achava sempre alguma graça nelas.  Via além de limites e alinhamentos ideológicos, estéticos, etários, profissionais; das discriminações que em geral usamos para defender nosso espaço, nosso “lado” na vida.  Judith não respeitava essas fronteiras, não vetava ninguém.  Sofreu algumas birras de burocratas, a quem enlouquecia com seus métodos heterodoxos de agir dentro do Estado, mas parecia não se importar.
A passagem dessa mulher excepcional pelo Brasil foi sempre de um frescor, de um viço únicos.  Suas lições estão menos nos livros que escreveu e nas instituições que idealizou do que na vida das pessoas que tocou, muitas vezes sem que elas se dessem conta.
O tempo decorrido desde a Constituinte registra avanços importantes.  Ficou mais clara a identidade comum das questões ambientais, sociais e econômicas.  Também caminhou o diálogo entre setores (ou parte deles) que se tratavam como inimigos inconciliáveis (ou quase), como empresariado, governos e organizações da sociedade civil.  Já se entende que o mundo não será nem de uns nem de outros e, portanto, é melhor sentar pra conversar e dedicar esforço e tempo para transformar esse encontro em paradigmas mais civilizados e sustentáveis.
O momento é bom para pensar na atualidade de Judith Cortesão.  Sobre a capacidade de aprender com as diferenças e aceitá-las de fato, não como jogo de aparências que atualiza estratégias de dominação e disfarça a arrogância sob o discurso politicamente correto.
O que Judith chamava de “ecoespiões” era uma brincadeira para apontar a importância de ouvir, conhecer e entender aquele que você considera seu adversário.  Outra lição é a de não reverenciar fronteiras, porque elas não existem de fato.  Quase sempre são apenas espaços de poder que se diluem na consciência da conexão entre tudo o que existe.  Em 2001, ao jornal Mundo Jovem, de Porto Alegre, Judith disse, sobre os grandes desafios ecológicos do século XXI: “O primeiro desafio é o ético, coletivo.  É indispensável que o homem vivencie, sinta que pertence a uma rede de vida e que esta rede se sustenta pela participação de todos.  (…) Nós não somos muitos, nós somos um só.”

REVSITA PÁGINA 22 - Centro de Estudos em Sustentabilidade da EAESP - FGV

http://pagina22.com.br/index.php/quem-somos/


Entrevista Jornal Mundo Jovem - PUCRS - O MUNDO AINDA PODE SER SALVO?

" Maravilhados com os avanços da tecnologia, com as facilidades da informática, corremos o risco de esquecer o essencial: a vida. Salvar a vida é o grande desafio neste século 21, especialmente para os jovens. "
Judith Cortesão, apresenta aqui algumas pistas para o nosso debate e ação.
Judith Cortesão, professora de Mestrado em Educação Ambiental Marinha, na Universidade Federal de Rio Grande (FURG).
Mundo Jovem: Se fosse fazer um quadro da realidade ambiental do planeta, hoje, o que daria para dizer?
Judith: A crise ambiental do planeta é tão visível que ela não é mais implícita. Ela é totalmente explícita. Qualquer criança hoje na escola sabe disto, não só porque o professor a ilustrou quanto a isso, mas porque ela encontra no dia-a-dia todas as marcas da degradação da vida no planeta.
E a criança ambientalizada costitui hoje, sem dúvida, a promessa, a maior força de esperança de um futuro em que haja mais dignidade para todos os seres e mais paz entre os homens.
Mundo Jovem: E se a gente fosse enumerar os grandes desafios ecológicos que temos para o século 21, quais seriam estes desafios?
Judith: É claro que o primeiro desafio é o ético, coletivo. É indispensável que o homem vivencie, sinta que pertence a uma rede de vida e que esta rede se sustenta pela participação de todos. Como o pensador francês Montesquieu dizia: “uma injustiça feita a um, é uma injustiça feita a todos”. Esse é um dos maiores exemplos da consciência de que nós não somos muitos, nós somos um só.
Então, a partir desta consciência de pertencermos a uma rede de vida decorrem as ações de mobilização quanto aos principais perigos que você está vivendo. Um deles, um dos mais graves, é a manipulação genética, porque ela vem ameaçando, já desde a década de 40, a identidade.
A possibilidade de modificar geneticamente o homem, para colocá-lo num estado de servidão, para que não tenha a possibilidade genética de reagir. Mas o fator da ameaça transgênica refere-se também à própria rede de vida, alterando, modificando a relação entre os alimentos e o ser humano. Por exemplo, a questão da “vaca doida”, em que se alterou a alimentação dos bovinos, espalhou uma zoanose na Europa que ameaçou de insanidade, de degradação mental gravíssima, a ponto de que na Europa até hoje praticamente acabou o consumo de carne bovina.
Mundo Jovem: A água também é um desafio, não é?
Judith: Nós temos a degradação e a contaminação massissa das águas e da atmosfera. A degradação das águas acresce do consumo iníquo da água pela indústria em detrimento das populações humanas. Por exemplo, a Bacia Carbonífera de Santa Catarina tem deixado comunidades inteiras sem água; a indústria do camarão no Nordeste diminuiu o acesso à água potável em muitas cidades.
Mas há também, quanto à atmosfera, o perigo maior: a diminuição da camada protetora do ozônio, que traz não só prejuízos aos humanos e animais, mas traz também aquecimento gradual da atmosfera por elevação do gás carbônico, ao aumento dos níveis das águas do mar, lembrando que as maiores concentrações urbanas no mundo estão à beira dos Oceanos. Esta ameaça de diminuição da camada protetora do ozônio é uma das mais graves para o futuro.
A outra ameaça ecológica é a do acesso e uso inadequado do solo. A perda do solo edáfico, ou seja, do solo fértil para agricultura, é muito mais rápida e crescente do que se pensa.
O mau uso do solo pelo homem está causando a expansão dos desertos. Apenas uma distribuição mais equitativa do uso do solo, como é o caso da agricultura alternativa, podem fazer superar esta crise em todo o seu fundamento.
Mundo Jovem: A consciência ecológica está crescendo?
Judith: Até a década de 70 nenhuma criança sabia o que era ecologia, poluição etc. Hoje, toda a criança é um apóstolo da ecologia. Isso se deve à escola, e ao exemplo dos pais, mas se deve em grande parte à explosão das ONGs (Organizações Não-Governamentais), na Europa, em outros continentes, e sobretudo no Brasil.
O surgimento de ONGs ecológicas, passados 10 anos, já eram duas mil e hoje é um grosso volume que registra a pluralidade das ONGs e praticamente todos os dias se cria uma nova. Esse movimento às vezes foi desordenado, outras vezes foi imperialista, querendo concentrar poder, outras vezes foi mercantilista, querendo conseguir fundos para causas, sem dúvida, corretas, mas em que o espírito da ação não era o mais adequado. Mas, hoje, o número de ONGs em todo o mundo, não é só uma esperança, mas uma certeza de vitória.
Mundo Jovem: Talvez só esta consciência não tenha resolvido, talvez falte algo mais ainda nas pessoas?
Judith: É que o questionamento da ecologia leva, por exemplo, certas determinações do Ministério da Educação e tem sido tratado como tema de transdicisplinariedade e não uma matéria ecológica específica. Na quase totalidade dos países, ecologia é disciplina obrigatória, porque se trata da questão da sobrevivência no planeta.
No Brasil não tem sido assim e então fala-se em transdisciplinariedade, ou seja, a ecologia incluída nas outras disciplinas. Na verdade, me parece que tem que ser o oposto. Como em outros países, em que a ecologia inclui outras disciplinas: não só incluir pedagogia, mas economia, direito, relações sociais, biologia, oceanologia, ciência e tecnologia etc., e também ética, a discussão dos valores. Então, esta conotação do social e do econômico, a par do científico e do pedagógico, me parece essencial à ecologia.
Quero chamar a atenção para o fato de que no Rio Grande do Sul, em Ilópolis, foi criada a primeira escola municipal ambiental do país. Portanto, uma escola que assumiu a ecologia como tema e como ação. As crianças aprendem a plantar flores, criar viveiros, a preservação da vida e da beleza.

Mundo Jovem: Que sugestões de ações práticas que os jovens podem exercitar para que haja mais cuidado com a preservação ambiental?
Judith: No terceiro mundo, em que a vida, o uso do solo e a própria cidadania estão ameaçadas, eu considero que todo o programa de educação deve ser explícito para a ação ecológica.
Portanto, sem negar a importância da reflexão, da meditação, é tal a urgência que o jovem realmente deve assumir a sua posição de agente multiplicador. Todo o jovem, neste sentido, é um mensageiro, um apóstolo da ecologia no sentido da sua ação levar a um ato multiplicador.
Mundo Jovem: E quais seriam as ações concretas?
Judith: Bem, você sabe que tem aquela triologia: quem conhece ama, quem ama protege. Uma das descobertas mais belas é que o nosso planeta é o único planeta azul e vivo do sistema solar. Então, é necessário pensar globalmente o planeta.

E dentro de um pensamento, de um conhecimento global, não só do esplendor da vida no planeta, mas da ameaça da vida no planeta. Partir para a ação local: pensar globalmente, agir localmente. Acredito que o essencial seja esta trilogia a que me referi: conhecer, amar e proteger. O conhecimento da região, do local, nos leva a amar os seres vivos e amar sobretudo em cada ser humano a dignidade, a transcendência.
Esse amor leva necessariamente ao instinto de proteção. O primeiro passo seria o jovem participar, pois isto o leva à reflexão e à determinação da correta participativa da ação de empreender. Associando-se e fazendo um esforço para o conhecimento e atualização contínua da realidade regional e também mundial. Esta necessidade da informação é essencial.
Os exércitos, hoje, triunfam pela informação. Quem tem mais informação é que tem possibilidade de coordenar a ação. Então, o jovem deve informar-se, e a partir dessa informação cada vez mais osmótica, mais divulgada, pode-se então realmente levar a um amor acrescido, atuante no sentido da proteção. Um jovem, se ama uma moça, há primeiro um diálogo, que é o diálogo do conhecimento, e depois há o amor e a necessidade de protegê-la.
Nós temos também que ter também este relacionamento que é retratado na missa: o diálogo, a confissão, e a veneração pela proteção. Esses passos podem e devem ser vivenciados pelo jovem.
O Mundo Jovem, por exemplo, é uma rede de divulgação de conhecimento, ao mesmo tempo é uma rede de mobilização num sentindo de estar empolgando o jovem através do conhecimento. Isso, necessariamente, vai levar a uma ação participante, refletida e que concorra para a paz.
Mundo Jovem: Como é que os grandes meios de comunicação tratam das questões ecológicas?
Judith: Eu vi um artigo numa revista americana em que os grandes empresários e os governantes xingavam, dizendo: “nós estamos perdendo a nossa predominância no campo da informática, da automobilística etc., porque nós não estamos fazendo como os japoneses e usando a propaganda verde”.
Que coisa tão extraordinária que a coisa chegou a tal ponto, que a um ato de propaganda (propaganda, na linguagem popular, é enrolar o outro), em que se chega a considerar que é indispensável divulgar a natureza para vender mais rápido e melhor.
Isso é uma determinação do processo de comunicação da mídia. O exercício de cidadania que leva a suscitar o aspecto crítico e participativo foi anulado durante muito tempo. Hoje é preciso readquirir este exercício da cidadania.

A vida mais próxima da natureza
Uma das essências mais importantes da infância é o dom do maravilhamento. Como Einstein dizia, “quem não se maravilha ante o universo, não é digno de se chamar cientista”. Quem não se maravilha diante da vida, também não é digno de se chamar criança.
Esse dom é uma coisa importantíssima. A mecanização e automatização do raciocínio me parece tão grave como a não inclusão na educação normal de técnicas, do aprendizado dos processos elementares de sobrevivência.
Ao final da segundo guerra morreram milhares de pessoas pelas estradas, porque não sabiam a coisa mais elementar: distinguir um ramo seco de um ramo verde. Não sabiam fazer uma fogueira, não sabiam fazer um abrigo, contra a chuva e o frio, não sabiam a arte de viver que qualquer mãe e pai ensina há mil anos. É uma educação 99% urbana.
O fato que essa educação é imposta no interior do país leva a questionar a função da universidade, não só de difundir o seu saber no interior, mas integrar o seu saber, o saber experimental, a arte básica de viver. Se acontece a menor pane, o ser humano entra em paranóia. Por exemplo, quando se apaga a luz numa grande cidade, ninguém sabe o que fazer, porque nós dependemos de apertar num botão, pegar um celular; perdemos a obrigação da educação de sobreviver e de conservar o que há de mais sagrado que é a tua identidade.
Teria que haver um grupo avesso a qualquer processamento mecânico de pensamento. Vamos nos informar primeiro através da sabedoria experimental da comunidade. E quando se tratar de usar processos mecânicos de pensamento, vamos pensar duas vezes, vamos dar mais importânica ao diálogo do que ao computador.
Nós temos que admirar a capacidade, a inteligência humana de ter elaborado este processo, só que o feitiço escapou ao feiticeiro. Hoje, não é o homem que controla a informação, nem a globalização da economia. Na verdade, nós estamos manipulados, tudo leva a crer, por um pequeno grupo de entidades, que manipula o todo.
Eu considero que o Ecumenismo, nesse momento, é uma das forças mais importantes contra a globalização indevida, não só da economia, mas dos meios de comunicação. Escapar do absoluto domínio do computador é uma das mais importantes tarefas do homem. Por exemplo, hoje sabe-se que nos Estados Unidos há um processador de informações telefônicas que grava, por segundo, bilhões de informações.
Nós estamos sendo espionados na nossa comunicação mais comum, que é o telefone. Qual seria a palavra de ordem: não usar o telefone, fazer o diálogo direto. Isto não é um incitamento à desordem. É um incitamento à reflexão. É errado acharmos que não temos poder. Gandhi, Luter King, Mandella, sem usar uma arma, paralizaram máquinas. Os jovens têm um poder único de meditar sobre questões fundamentais com a cabeça limpa, não teleguiada.

Fonte: Jornal Mundo Jovem
Entrevista publicada na edição 307, junho de 2000.

Reportagem do Jornal Zero Hora-RS

Reportagem de 08/09/2002